A ascensão da inteligência artificial (IA) está transformando a dinâmica do trabalho, oferecendo novas maneiras de lidar com as complexas teias de dependência que muitas vezes prejudicam a produtividade e a inovação.
A evolução aponta para um futuro onde a IA não é apenas uma ferramenta, mas sim uma “máquina companheira de equipe”, um verdadeiro assistente digital, capaz de colaborar com humanos e, crucialmente, quebrar as dependências que impedem o bom fluxo de trabalho.
Tradicionalmente, o trabalho em equipe se baseia em uma complexa rede de interdependências entre indivíduos com diferentes habilidades. No entanto, essas dependências podem se tornar “ruins”, gerando gargalos, atrasos e frustrações.
A espera por aprovações, informações ou a conclusão de tarefas por outros membros da organização pode paralisar projetos e sufocar a criatividade.
Um exemplo claro disso são as dependências que surgem da estrutura organizacional, como a necessidade de um time de front-end depender de um time de testes ou de um time de backend para completar suas tarefas.
Dependências ruins são aquelas que impedem o fluxo de entrega de valor de forma eficiente e autônoma. Elas podem ser estruturais, como no exemplo do time de front-end, ou instanciadas, quando surgem em um projeto específico.
O Modelo unFIX define uma biblioteca de padrões com soluções reutilizáveis para problemas comuns em design organizacional e um deles é o “Quebras de Dependência” que visa minimizar ou eliminar o impacto negativo dessas dependências..
Existem diversas técnicas de gerenciamento de dependências, e o unFIX fornece um conjunto com 20 diferentes formas para as organizações lidarem com as dependências de forma eficaz, são elas: Participe, Automatize, Bloqueie, Contenha, Coordene, Desacople, Sinalize, Formalize, Meça, Priorize, Redesenhe, Reestruture, Rotacione, Auto-Serviço, Padronize, Agrupe, Limite, Alterne, Visualize e Voluntarie-se.
Ao aplicar esses padrões, as organizações podem minimizar o impacto negativo das dependências e promover um fluxo de valor mais suave e eficiente e a IA, com suas capacidades únicas, amplia o escopo e a eficácia dessas técnicas como veremos à diante.
Os agentes de IA, também conhecidos como assistentes digitais inteligentes, são programas de software que utilizam modelos de IA para interagir com o ambiente, coletar dados e realizar tarefas de forma autônoma, buscando atingir objetivos específicos.
Na minha pesquisa, identifiquei que basicamente podem ser “tarefeiros”, “conselheiros” ou “criativos”, dependendo de sua função primordial e, claro, podemos ter combinações dessas naturezas em um mesmo agente ou necessidade, que nos levaria a possíveis 15 perfis de agentes de IA. Vale aqui lembrar a importância da diversidade humana nos times para evitar vieses ao desenhar esses agentes.
Já no blog do unFIX, Jurgen Apello propõe os seguintes padrões de Assistentes de IA: O catalisador inspirador, O criador de conteúdo, O transformador de conteúdo, O guardião do conteúdo, O companheiro interativo, O tecelão pessoal, O coletor de conhecimento, O Sintetizador de Dados, O Oráculo Preditivo, O otimizador de decisão, O inovador do design, O Escultor Iterativo, O autômato de suporte e O Gerador de Experiência.
Embora eu não tenha detalhado as combinações entre “tarefeiros”, “conselheiros” e “Criativos”, seriam o mesmo número de padrões de Assistentes de IA propostos por Jurgen Apello, mesmo sendo possível que estejamos dizendo o mesmo, de maneiras diferentes, eu não me aprofundei nessa análise para poder afirmar.
No contexto do trabalho, entre outras coisas, os agentes de IA podem:
- Automatizar tarefas repetitivas, liberando os humanos para se concentrarem em atividades de maior valor.
- Fornecer informações e insights relevantes, auxiliando na tomada de decisões e na resolução de problemas.
- Criar conteúdo e artefatos, acelerando o processo criativo e eliminando a necessidade de especialistas em todas as áreas.
- Monitorar e rastrear dependências, fornecendo visões claras do fluxo de trabalho e identificando gargalos.
- Atuar como intermediário entre equipes, facilitando a comunicação e a coordenação.
É nesse contexto que surgem as equipes híbridas (humanas e digitais), ou digitalmente diversas, compostas por humanos e agentes de IA trabalhando em colaboração. Essas equipes podem ser vistas como uma evolução natural das equipes tradicionais, aproveitando as capacidades únicas de cada parte para alcançar resultados superiores.
É importante ter clareza do propósito ao integrar a IA nessas equipes, garantindo que cada agente tenha uma função específica e bem definida.
“Em vez de depender de equipes cada vez maiores de humanos, nos tornaremos cada vez mais dependentes de dezenas de copilotos de IA.” – Jurgen Apello
Eu mesmo forneço aos meus alunos da universidade um agente treinado com os conteúdos das disciplinas que ministro, para auxiliá-los quando estou indisponível, por exemplo.
Esse tipo de equipe deve expandir nossa capacidade de lidar ou minimizar o impacto das dependências, entre outras coisas, permitindo que:
- Trabalhos especializados sejam realizados por IAs, liberando os humanos para se concentrarem em tarefas que exigem habilidades essencialmente humanas.
- A comunicação e a coordenação entre equipes sejam otimizadas, com IAs atuando como facilitadores e tradutores.
- A tomada de decisão seja mais rápida e eficiente, com IAs fornecendo dados e insights relevantes.
- A criatividade e a inovação sejam impulsionadas, com a combinação de diferentes perspectivas e habilidades.
“(..) equipes humanas estáticas e unidas podem se tornar mais flexíveis, com copilotos de IA assumindo cada vez mais trabalhos especializados em projetos e humanos circulando mais livremente entre projetos e produtos, onde podem fazer contribuições humanas significativas.” – Jurgen Apello
Como evolução, algumas equipes podem se tornar 100% digitais, com um único humano supervisionando o trabalho de múltiplas entidades de IA. Essa configuração radical levanta questões importantes sobre o papel dos humanos no trabalho, mas também aponta para um futuro onde a colaboração entre humanos e máquinas pode alcançar níveis inimagináveis. Todavia é sempre importante que você seja o humano nessa relação, garantindo que a IA esteja alinhada com os objetivos e valores e garantindo a curadoria de suas criações.
Já assistiu ao filme Atlas, com a Jenifer Lopez? Senão, assista. Essa obra de ficção extrapola o trabalho conjunto entre humanos e IAs, ou a IA como uma extensão das capacidades humanas, e, além de divertida, pode levar a reflexões interessantes.
Na verdade, eu já faço isso há algum tempo, talvez um ou dois anos, para projetos pessoais, como o “365 dias ágeis” que fiz em meu Instagram, ou o time digital de marketing social que criei para me ajudar com as minhas redes, onde eu tenho uma IA especializada em pesquisas, duas em criação de conteúdo gráfico e um agente treinado com as informações da minha marca e do meu público-alvo para propor as campanhas.
A IA oferece um arsenal de recursos para quebrar dependências ruins, indo além da simples automação.
Vejamos algumas possibilidades de conexão da IA com as quebras de dependências sugeridas no unFIX:
- Bloqueie: Agentes de IA podem ser treinados para identificar dependências prévias em novos itens de trabalho e pré-aprovar demandas que estejam dentro de parâmetros predefinidos, agilizando o processo e evitando gargalos. Aqui, os agentes de IA Generativa (Gen AI) mais conhecidos devem atender, como Conselheiros ou mesmo Tarefeiros que identifiquem esses padrões e façam essas aprovações.
- Desacople: Agentes de IA podem “mockar” artefatos, como código, designs e documentos, sem a necessidade de um especialista humano. Isso permite que as equipes continuem trabalhando sem depender da disponibilidade de outros times. O Google AI Studio, por exemplo, poderia atender em relação a artefatos de código, como um bom Tarefeiro, enquanto o Galileo AI poderia ser um bom Criador para o caso de artefatos gráficos.
- Sinalize e Visualize: Agentes de IA podem monitorar e rastrear as dependências em um quadro Kanban, sinalizando e visualizando os bloqueios de forma clara para toda a equipe. Com a funcionalidade “computer use” do Claude 3.5 Sonnet da Anthropic, que permite que sua IA generativa acesse e manipule a sua área de trabalho, temos um ótimo “Consultor Operacional” (Conselheiro mais Tarefeiro) capaz de interferir em qualquer quadro digital, independente de sua plataforma.
- Meça: Agentes conselheiros podem auxiliar na definição, levantamento e demonstração de métricas relevantes para o acompanhamento das dependências, como tempo de espera, tamanho das filas e impacto no fluxo de trabalho. Aqui, praticamente qualquer Gen AI consegue ajudar bastante.
- Voluntarie-se: Um agente de IA, como um assistente digital, não está atrelado a um time ou projeto específico. Sendo útil, ele deve servir a toda a organização, ajudando a conectar diferentes áreas e quebrar silos de conhecimento.
Todas essas quebras de dependência convergem para a necessidade de reestruturar a forma como o trabalho é organizado. A integração da IA nas equipes exige uma mudança de mentalidade, tanto por parte dos líderes quanto dos trabalhadores. É preciso:
- Formar equipes híbridas, com humanos e agentes de IA trabalhando em colaboração.
- Criar ambientes de autosserviço, onde as equipes têm acesso aos recursos e informações de que precisam de forma autônoma.
- Desenvolver novas habilidades para os trabalhadores, com foco em áreas como criatividade, pensamento crítico e inteligência emocional.
- Cultivar uma cultura de colaboração entre humanos e máquinas, valorizando as contribuições de cada parte.
Eu já perguntei se você assistiu Atlas?
Poucas tecnologias são mais “self-service” do que um assistente digital que pode ser acionado 24/7/365. A IA, nesse sentido, representa a chave para a criação de um ambiente de trabalho mais fluido, eficiente e adaptável, onde as dependências ruins se tornam cada vez menos um obstáculo para o sucesso.
Considere o ganho e o custo ao implementar essas soluções, garantindo que o uso da IA resulte em um saldo positivo para a equipe e a organização, sobretudo no ganho de tempo e qualidade de vida para as pessoas envolvidas.
Enxergue os assistentes digitais como seus mais novos aliados na quebra de dependências dentro de suas organizações, equipes e projetos. Lembre-se de que as IAs que está utilizando hoje são as piores IAs que você usará, então continue aprimorando e ajustando suas estratégias para maximizar os benefícios.
Referências
McCluskey, Camin. 11 Strategies for Managing Dependencies Between Agile Squads. Better Programming, jul.20. Disponível em: https://betterprogramming.pub/11-strategies-for-managing-dependencies-between-agile-squads-aac11e3c1f11. Acesso em: nov.24.
Carroll, Ian. 17 Kanban Dependency Management Hacks To Improve Flow Efficiency. Solutioneers. Disponível em: https://www.solutioneers.co.uk/dependency-management-hacks/. Acesso em: nov. 2024.
Apello, Jurgen. Breaking Bad Dependencies. unFIX. out.24. Disponível em:
https://unfix.com/blog/breaking-bad-dependencies. Acesso em: nov.24.
Marques de Almeida, Davi Fontebasso. Cocriando sua IA. Prompto. Disponível em: https://davifma.github.io/prompto/tipos-de-prompt/cocriacao.html. Acesso em: nov.24.
Marques de Almeida, Davi Fontebasso. Conselheiro. Prompto. Disponível em: https://davifma.github.io/prompto/tipos-de-prompt/conselheiro.html. Acesso em: nov.24.
Marques de Almeida, Davi Fontebasso. Criativo. Prompto. Disponível em: https://davifma.github.io/prompto/tipos-de-prompt/criativo.html. Acesso em: nov.24.
Apello, Jurgen. Embrace Digital Team Members. unFIX. jan.24. Disponível em: https://unfix.com/blog/embrace-digital-team-members. Acesso em: nov.24.
Anthropic. Introducing computer use, a new Claude 3.5 Sonnet, and Claude 3.5 Haiku. Disponível em https://www.anthropic.com/news/3-5-models-and-computer-use. out. 2024. Acessado em: nov. 2024.
unFIX. Quebras de Dependência. unFIX. Disponível em: https://www.unfix.com.br/dependency-breakers. Acesso em: nov.24.
Marques de Almeida, Davi Fontebasso. Tarefeiro. Prompto. Disponível em: https://davifma.github.io/prompto/tipos-de-prompt/tarefeiro.html. Acesso em: nov.24.
Marques de Almeida, Davi Fontebasso. Tipos de proMpts e Agentes. Prompto. Disponível em: https://davifma.github.io/prompto/tipos-de-prompt/. Acesso em: nov.24.